SOBRE PRECONCEITO
por Paulo Wainberg(*)
O tema do preconceito é espinhoso para a humanidade.
Acredito que, de um modo ou de outro, somos todos preconceituosos, levados por nossa instintiva xenofobia. Isto é, somos racistas. Essa característica está inserida no plano dos sentimentos humanos, que se expressam, intimamente, por não gostar desta ou daquela raça, desta ou daquela condição.
Posso, por exemplo — e não é o caso, apenas para exemplificar — não gostar de índios. Se me submeter a esse sentimento, o passo seguinte é a discriminação, esta sim, inadmissível, condenável e, pelas leis de quase todo o mundo civilizado, crime de racismo. Porque discriminar é pôr o preconceito em prática, dar-lhe vazão.
Nossa inteligência, dom superior, leva à reflexão e, como todos os outros demônios que frequentam nossa psiquê, o preconceito e o racismo devem — e são — administrados pela razão, para que não pratiquemos a discriminação.
Neste ponto o Brasil é cínico e hipócrita. Cínico, porque nega o preconceito. A sociedade brasileira, como um todo, não se diz racista. Entretanto, pratica o racismo de várias formas, através de manifestações, umas graves, outras mais amenas e circunstanciais.
Os Estados Unidos, por exemplo, admitem claramente ser uma sociedade racista. Porém não é hipócrita nem cínica e, mesmo racista, é extremamente rigorosa no tocante à discriminação, tão rigorosa que, quando discriminava os negros, fazia de forma aberta, estabelecendo um plano "separatista" de convivência. Que desapareceu como uma conquista da população negra, através de seus expoentes Martin Luther King, Malcon X e Muhamad Ali (ex Cassius Clay).
A partir da Lei dos Direitos Civis, a discriminação racial nos EUA tornou-se crime hediondo, sujeito às mais duras penas. No entanto, o preconceito desapareceu, por lá? É claro que não. As pessoas são preconceituosas como sempre foram, mas não discriminam. E, na medida em que o tempo passa e a convivência aumenta, os sentimentos racistas arrefecem e tendem a desaparecer.
O Brasil precisa enfrentar de vez a questão do preconceito, sobretudo, pela nossa diversidade racial e cultural. Temos que admitir o problema para resolvê-lo.
Por isso, ações de enfrentamento da questão, sem conceder e sem ceder, são fundamentais e elogiáveis. Aos poucos, nossa consciência perceberá que, como seres humanos, somos todos iguais e que nossas diferenças ou opções não nos fazem melhor ou pior do que ninguém.
[Em e-mail enviado pelo autor à mãe da aluna Sophia Guimarães]
(*) Paulo Wainberg (Porto Alegre/RS). Advogado e escritor. Tem 12 livros publicados. Os mais recentes: Nem tudo é podre no reino do lixo (romance, Ed. Mercado Aberto), A mãe judia o gênio cibernético e outras histórias (crônicas e contos, Ed. AGE), Os malditos (romance, Ed. Bertrand), Um outro vagabundo toca em surdina (crônicas, WS Editora) e Unhas (romance policial, Ed. Leya Brasil).